sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O BRILHO DA SUPERNOVA, de Geraldo Mártires Coelho



COELHO, Geraldo Mártires Coelho. O Brilho da Supernova: a morte bela de Carlos Gomes. Rio de Janeiro: AGIR, 1995. 184p.


Carlos Gomes estreou sua ópera o Guarany no Scala de Milão no começo de 1870 e ganhou lugar entre os maiores da música européia. Mais apoteótica ainda foi a estréia no Rio, no mesmo ano, no dia do aniversário do Imperador (02/12) para o próprio e para uma elite ansiosa de ver o país se reafirmar depois da guerra contra o Paraguai. A partir daí começou sua mitificação. Morreu em Belém, em setembro de 1896, quatro meses depois de ter sido recebido nesta cidade com honras de um deus. Ou de um gênio.

O livro não é sobre a vida de Carlos Gomes mas sobre sua morte. Carlos Gomes já estivera em Belém em 1882 e 1883, em ambas recebido como mito. Mito é a palavra chave, assim como herói, ou gênio. A exaltação do gênio, da morte do gênio, é resultado do cruzamento de duas linhas de pensamento e interesse inicialmente díspares, o Romantismo e o Positivismo. Este último com sua mórbida exaltação dos mortos. Sintetizada em sua frase-slogan “Os vivos são cada vez mais e mais governados pelos mortos”, da qual o positivista e folgazão Barão de Itararé fez a adaptação “Os vivos são cada vez mais e mais governados pelos mais vivos”. O romantismo em sua exaltação da pátria, da natureza, e do gênio como força da natureza.

A exaltação aos mortos começou com a Revolução Francesa, que transformou uma igreja no Pantheon para celebrar seus mortos ilustres. E continuou depois da derrota de 1870 para a Prússia. Em pouco mais de 40 anos mais de centena e meia de bustos foi inaugurada na cidade. Era o culto ao herói. Que atingiu um paroxismo nas exéquias de Vítor Hugo em 1885, que duraram mais de dez dias.

Lauro Sodré contratou Carlos Gomes. Era o presidente do estado do Pará. Positivista, republicano. Já sabia que o maestro estava mal. Financeiramente e de saúde – tinha um câncer na língua. E foi o grande responsável pelas exéquias de herói que Carlos Gomes teve. Bem dentro do impulso de criar heróis para consolidar a República – apesar de Carlos Gomes ser monarquista impenitente.

Um livro sobre como se constroem os gênios.

De leitor para leitor

Livro: O BRILHO DA SUPERNOVA, de Geraldo Mártires Coelho.
Assunto/Personagem Principal: Carlos Gomes

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Interessados em positivismo.
Interessados na ideologia cultural chamada Romantismo.
Interessados na história do Pará.
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O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Boa exposição das ideologias positivista e romântica.

QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 5 hs
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PODE SER LIDO em ônibus/metrô ou em filas em pé.

O QUE ESTE LIVRO MAIS TRAZ PARA VOCÊ:
Informação sobre o ambiente cultural da segunda metade do século XIX.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
público feminino (histórias de sexualidade e família): alguns detalhes da vida de Carlos Gomes, seu sucesso popular.
público masculino (poder, política e economia): histórias sobre o Romantismo e o Positivismo (coisas para um público mais culto).


TRECHO

“É o caso do mito do gênio no tecido mental do romantismo, manifestando uma potência absoluta, para além das possibilidades da apreensão racional, e cuja demiurgia revela-se pelo ato da criação intuitiva, original e predestinada. Entidade armada do dom natural, “o gênio tornou-se, no Romantismo, o mediador entre o Eu e natureza exterior”. Indefinível, insubmisso, abrigando as potências mais submersas do espírito e revelando o que emerge do mais profundo do inconsciente, “o gênio é o Kraftsmensch, o homem habitado pela força da natureza, que faz dele um demiurgo apto a manifestar todas as suas possibilidades, o infinito da pulsação cósmica que traz consigo e que o anima.” p21.

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