quarta-feira, 22 de julho de 2009

O DEMOLIDOR DE PRESIDENTES, de Marina Gusmão de Mendonça


MENDONÇA, Marina Gusmão de. O Demolidor de Presidentes: a trajetória política de Carlos Lacerda. São Paulo: Códex, 2002. 383p.

Juscelino era um "cafajeste sem escrúpulos" e "a corrupção em forma de gente". Getúlio, um "Hitler eleito por maioria relativa". Jânio, "filho de Hitler com Macunaíma". João Goulart, um "dono de cabaré em São Borja". Castello Branco, "mais feio por dentro que por fora". E o destempero não se derramava só sobre políticos. O poeta Jorge de Lima era um "proustinho sodomita". O cineasta Orson Welles, "camelô de um subpanamericanismo". Os escritores franceses Bernanos e Maurois eram "uma farândola de pulhas". O milionário jornalista Roberto Marinho era um "Al Capone da imprensa".

A profa. Marina Gusmão adverte, esta não é uma biografia standard de Carlos Frederico Werneck de Lacerda, nascido em 1915 de Maurício de Lacerda e Olga Caminhoá. A menção aos pais não é casual. Impossível entender o biografado sem eles. Maurício era brilhante. Esquerdista numa época que ninguém o era, socialista quando quase ninguém pensava em ser, na República Velha e de velhas idéias aquele homem do interior do estado do Rio propunha impostos sobre a Igreja e defendia operários. Deu ao filho o nome de Carlos Frederico em homenagem a Carlos Marx e Frederico Engels. O filho rompeu com ele aos dezessete anos, ao saber que pai tinha uma amante, e ele, um irmão quase da mesma idade. O filho admirou e odiou o pai por toda a vida.

Biografia política, este livro enfatiza o político que nesta estranha personagem se mescla com o pessoal. Carlos previsivelmente se encaminha para a esquerda. Aproxima-se do Partido Comunista. E começa uma carreira desde o princípio a pisar em pescoços. Com 18 anos derruba a diretoria do Centro Acadêmico da faculdade de Direito e lidera campanha que impediu que Alceu Amoroso Lima se tornasse professor. E surpresas: abandona a faculdade e foge do serviço militar. E de comunista se tornou baboso, raivoso conservador.

Encastelou-se em jornais e começou sua escalada, especialmente a partir de 45. Caracterizada pela defesa alternada da democracia e do golpe, sempre que interessavam um ou outro, o zelo patético contra a corrupção embora sua vida não tenha sido isenta de escândalos, e principalmente pela visão de si enquanto vítima. Por toda a vida Carlos Lacerda foi a seus próprios olhos um mártir perseguido.

Tinha quem o escutasse. Uma classe média desconfiada da indústria, do nacionalismo, do operário e de tudo o mais. Esse público e a sua mais absoluta falta de freios em ter inimigos e insultá-los fez uma carreira brilhante por duas décadas. Carlos Lacerda odiava por inteiro, sem reservas. Teve derrotas graves. Derrubara Getúlio. O Velho estava deposto. E se mata. De governante acuado, Getúlio se torna herói. E Carlos Lacerda o quase vencedor teve de fugir. Outra derrota aconteceu quando o contragolpe do marechal Lott impediu que Carlos Lacerda impedisse a posse de Juscelino.

Tinha obsessão: ser Presidente. E tinha oratória, persistência e falta de freios para isso. Surpreendentemente, não foi. A autora avança duas hipóteses. Uma, o fato dele nunca ter conseguido ampliar sua base de apoio além da classe média conservadora. Seu eleitorado de 1954 a 1964 na verdade encolheu, fazendo com que ele tivesse que radicalizar cada vez mais contra seus inimigos. E outra é que talvez levado pela própria embriaguez da oratória, ele os fizesse em excesso. Por algum tempo foi o querido dos militares. Até que chamou o Marechal Lott de “traidor cheio de remorsos”. A partir daí seu prestígio com a farda foi diminuindo.

A derrota na vitória. Em 1964 aconteceu o que sempre sonhara: um golpe que afastasse os políticos populistas do poder, os fantasmas de Getúlio que ele sempre odiara. Mas o caminho não estava aberto para outros. Os homens fardados não iriam entregar o poder se mão beijada àquele homem estranho, de palavra fácil e ódio mais ainda. E Carlos Lacerda foi cassado, silenciado, e nunca foi Presidente.

Uma vida dramática e uma biografia interessante para quem quer saber de personagens importantes do Brasil nos anos de 30 a 64.

DE LEITOR PARA LEITOR
Livro: O Demolidor de Presidentes: a trajetória política de Carlos Lacerda. de Marina Gusmão de Mendonça.
Assunto/Personagem Principal: Carlos Lacerda.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
• Interessados em História política no Brasil no século XX
• Interessados nas vidas de Getúlio, JK, Jânio, Jango, Castello Branco.
• Interessados na história do golpe de 64
O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
• Interpretações psicológicas do biografado
• Citações de seus artigos e discursos
• Histórias de bastidores da política dos anos 1945-64..
QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 16 hs
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LI numa mesa, em posição tensa, de estudo. Exige certa atenção. Senão a quantidade de informações e personagens pode fazer com que o leitor se perca.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
• público feminino (histórias de sexualidade e família): histórias sobre a infidelidade na família de CL e a raiva que este nutria contra seu pai.
• público masculino (poder, política e economia e aventura): muito. Muito jogo de poder e ambição, envolvendo principalmente os políticos mencionados acima.
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TRECHO

“O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.” (Carlos Lacerda na Tribuna da Imprensa, 01/06/1950) – p115.