quarta-feira, 22 de julho de 2009

O DEMOLIDOR DE PRESIDENTES, de Marina Gusmão de Mendonça


MENDONÇA, Marina Gusmão de. O Demolidor de Presidentes: a trajetória política de Carlos Lacerda. São Paulo: Códex, 2002. 383p.

Juscelino era um "cafajeste sem escrúpulos" e "a corrupção em forma de gente". Getúlio, um "Hitler eleito por maioria relativa". Jânio, "filho de Hitler com Macunaíma". João Goulart, um "dono de cabaré em São Borja". Castello Branco, "mais feio por dentro que por fora". E o destempero não se derramava só sobre políticos. O poeta Jorge de Lima era um "proustinho sodomita". O cineasta Orson Welles, "camelô de um subpanamericanismo". Os escritores franceses Bernanos e Maurois eram "uma farândola de pulhas". O milionário jornalista Roberto Marinho era um "Al Capone da imprensa".

A profa. Marina Gusmão adverte, esta não é uma biografia standard de Carlos Frederico Werneck de Lacerda, nascido em 1915 de Maurício de Lacerda e Olga Caminhoá. A menção aos pais não é casual. Impossível entender o biografado sem eles. Maurício era brilhante. Esquerdista numa época que ninguém o era, socialista quando quase ninguém pensava em ser, na República Velha e de velhas idéias aquele homem do interior do estado do Rio propunha impostos sobre a Igreja e defendia operários. Deu ao filho o nome de Carlos Frederico em homenagem a Carlos Marx e Frederico Engels. O filho rompeu com ele aos dezessete anos, ao saber que pai tinha uma amante, e ele, um irmão quase da mesma idade. O filho admirou e odiou o pai por toda a vida.

Biografia política, este livro enfatiza o político que nesta estranha personagem se mescla com o pessoal. Carlos previsivelmente se encaminha para a esquerda. Aproxima-se do Partido Comunista. E começa uma carreira desde o princípio a pisar em pescoços. Com 18 anos derruba a diretoria do Centro Acadêmico da faculdade de Direito e lidera campanha que impediu que Alceu Amoroso Lima se tornasse professor. E surpresas: abandona a faculdade e foge do serviço militar. E de comunista se tornou baboso, raivoso conservador.

Encastelou-se em jornais e começou sua escalada, especialmente a partir de 45. Caracterizada pela defesa alternada da democracia e do golpe, sempre que interessavam um ou outro, o zelo patético contra a corrupção embora sua vida não tenha sido isenta de escândalos, e principalmente pela visão de si enquanto vítima. Por toda a vida Carlos Lacerda foi a seus próprios olhos um mártir perseguido.

Tinha quem o escutasse. Uma classe média desconfiada da indústria, do nacionalismo, do operário e de tudo o mais. Esse público e a sua mais absoluta falta de freios em ter inimigos e insultá-los fez uma carreira brilhante por duas décadas. Carlos Lacerda odiava por inteiro, sem reservas. Teve derrotas graves. Derrubara Getúlio. O Velho estava deposto. E se mata. De governante acuado, Getúlio se torna herói. E Carlos Lacerda o quase vencedor teve de fugir. Outra derrota aconteceu quando o contragolpe do marechal Lott impediu que Carlos Lacerda impedisse a posse de Juscelino.

Tinha obsessão: ser Presidente. E tinha oratória, persistência e falta de freios para isso. Surpreendentemente, não foi. A autora avança duas hipóteses. Uma, o fato dele nunca ter conseguido ampliar sua base de apoio além da classe média conservadora. Seu eleitorado de 1954 a 1964 na verdade encolheu, fazendo com que ele tivesse que radicalizar cada vez mais contra seus inimigos. E outra é que talvez levado pela própria embriaguez da oratória, ele os fizesse em excesso. Por algum tempo foi o querido dos militares. Até que chamou o Marechal Lott de “traidor cheio de remorsos”. A partir daí seu prestígio com a farda foi diminuindo.

A derrota na vitória. Em 1964 aconteceu o que sempre sonhara: um golpe que afastasse os políticos populistas do poder, os fantasmas de Getúlio que ele sempre odiara. Mas o caminho não estava aberto para outros. Os homens fardados não iriam entregar o poder se mão beijada àquele homem estranho, de palavra fácil e ódio mais ainda. E Carlos Lacerda foi cassado, silenciado, e nunca foi Presidente.

Uma vida dramática e uma biografia interessante para quem quer saber de personagens importantes do Brasil nos anos de 30 a 64.

DE LEITOR PARA LEITOR
Livro: O Demolidor de Presidentes: a trajetória política de Carlos Lacerda. de Marina Gusmão de Mendonça.
Assunto/Personagem Principal: Carlos Lacerda.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
• Interessados em História política no Brasil no século XX
• Interessados nas vidas de Getúlio, JK, Jânio, Jango, Castello Branco.
• Interessados na história do golpe de 64
O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
• Interpretações psicológicas do biografado
• Citações de seus artigos e discursos
• Histórias de bastidores da política dos anos 1945-64..
QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 16 hs
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LI numa mesa, em posição tensa, de estudo. Exige certa atenção. Senão a quantidade de informações e personagens pode fazer com que o leitor se perca.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
• público feminino (histórias de sexualidade e família): histórias sobre a infidelidade na família de CL e a raiva que este nutria contra seu pai.
• público masculino (poder, política e economia e aventura): muito. Muito jogo de poder e ambição, envolvendo principalmente os políticos mencionados acima.
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TRECHO

“O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.” (Carlos Lacerda na Tribuna da Imprensa, 01/06/1950) – p115.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Voar - histórias da aviação... - de João Ricardo Penteado


PENTEADO, João Ricardo. VOAR – histórias da aviação e do pára-quedismo civil brasileiro. São Paulo: SENAC, 2001. 222p.

Livro-testemunho: propõe-se a contar histórias sobre uma atividade humana antes que os que protagonizaram essas histórias não possam mais contá-las. O instrutor de pára-quedismo João Ricardo Penteado tem quatro mil saltos no seu currículo. Começa pelos pioneiros, os grandes brasileiros que ensinaram o mundo a voar, Bartolomeu de Gusmão e o inevitável Alberto Santos –Dumont.

O livro cresce de originalidade na segunda parte, quando conta histórias de pessoas, algumas conhecidíssimas pelo pequeno círculo de quem voa, mas desconhecidíssimas para a maioria de nós. Quem já ouviu falar de Alberto Bertelli? Ou de Coaracy Oliveira? No entanto esses dois foram os maiores pilotos de acrobacia, davam nós nos seus aviõzinhos que davam inveja a mosquitos. Ou de Zayra, garota bonita que escandalizou as freiras ao usar calça comprida e voar? Foi uma das primeiras mulheres brasileiras a pilotar.

O autor divide a narrativa em blocos, tendo a própria vida como alinhavo muito solto. De menino apaixonado por aviões, depois empregado da VARIG. Depois o afastamento e reencontro com o céu, dessa vez sem motor, pelas sedas dos pára-quedas. Mas o mais interessante são as histórias dos outros. Até humorísticas, como do aluno de pára-quedismo que teve medo de saltar e só largou do avião por cansaço de segurar lá em cima, matou duas galinhas ao aterrissar e nunca mais quis saber de saltos na vida. Ou a história de Joãozinho, piloto que levava mercadoria para garimpeiros e se orientava pelos rios da Amazônia. Devia descer no quarto afluente de um grande rio. Mas o afluente não aparecia. Estava perdido. Gasolina no fim, tinha de descer na floresta. Ou no rio, como pilotos perdidos fazem. Mas não sabia nadar. Desceu nas copas das árvores,e ficou pendurado 50 metros acima do solo. O livro vira suspense, só que real.

O livro também desmistifica uma idéia que geralmente se tem, a de que militar igual a nacionalista. O autor relata como ele e outros amigos tentaram criar uma indústria brasileira de pára-quedas. E essa boa idéia foi torpedeada por militares e também civis com interesse que o Brasil continuasse importando pára-quedas. Retórica patrioteira não é nacionalismo. Coisa de não pouca monta. O Brasil é o segundo maior mercado de pára-quedas do mundo.

Enfim o livro também acompanha o pára-quedismo de uma atividade romântica feita com amor para a condição de negócio. Como tudo. E a nave vai.

DE LEITOR PARA LEITOR
Livro: VOAR - histórias da aviação e do pára-quedismo civil brasileiro, de João Ricardo Penteado.
Assunto/Personagem Principal: pára-quedismo e aviação civis.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Interessados em histórias de aviação
Pára-quedistas e pilotos

O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Histórias de acidentes
Histórias de pioneiros aéreos
Histórias de gente interessante e pouco conhecida
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QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 7 hs
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PODE SER LIDO no metrô/ônibus, ou em filas. Não demanda muita atenção, embora em certos pontos de pico das histórias de acidentes eu tenha relido várias vezes para me assegurar dos detalhes.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
público feminino (histórias de sexualidade e família): muito pouco. Só a história das primeiras aviadoras mulheres.
público masculino (poder, política e economia e aventura): muita aventura de viagem e selva e acidentes.
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TRECHO

“Pensei numa fração de segundo: "Estamos mortos!". Era um sentimento tão definitivo que é impossível descrevê-lo. Eu nunca sentira nada igual, e nem poderia imaginar que alguém pudesse sentir aquilo. Estava além do medo, e me deixava abso­lutamente só com o meu destino. Olhei então para o Mauricio Vo1cov, que estava com os olhos colados em mim, e em seguida para a jane1a do Cessna. Ele pareceu compreender o que eu queria dizer, e, sem que tivéssemos trocado uma só palavra, fi­cou também de joe1hos, dobrou o corpo e começou a sair pela janela. Lembro-me de ter ajudado a empurrar as suas pernas, que ficaram entaladas, para fora do avião.
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Depois foi a minha vez, mas o Cessna girava tanto agora que eu sentia a minha cabeça bater varias vezes no teto, e por um momento pensei que fosse perder os sentidos. Também não acreditei que conseguisse sair pela janela. Mas não havia outra saída. A única era aquela, o único caminho da vida. Coloquei então a cabeça para fora e dei um grande impulso com o tron­co. Fui saindo com a sensação de estar escapando de dentro de um liquidificador mortal. Fora da cabine, percebi que o avião estava caindo em posição de faca. Gatinhei pela lateral dele até a altura do montante, e, entre este, e motor, saltei.” (p214)

sexta-feira, 20 de março de 2009

PARATY - encantos e malassombras, de Tom e Thereza Maia

MAIA, Tom, e Maia, Thereza. Paraty – encantos e malassombras. Guaratinguetá, SP: editora dos autores, 2005. 176p.

Você pode passar sozinho, madrugada alta, em frente à igreja de Santa Rita. Vai se surpreender de encontrá-la cheia. “Uma missa à essa hora”, você pensará. Você terá o mau senso de ficar. Você verá a missa terminar, e uma procissão será organizada. As pessoas sairão. Engraçado, quando uma multidão passa a gente sempre sente certa vibração no solo. Mas essas pessoas são tão leves. Nada vibra. Cruz à frente, a multidão sai. Em frente à igreja, uma praça. Além da praça, o mar. Passam a praça, sujam os pés na areia da praia. Você espera o momento em que a procissão se desviará. As pessoas continuam. Molham os pés, continuam entrando. E entram e entram. E fileira após fileira entram no mar e desaparecem.

É a procissão dos afogados.

O casal Maia já revirou Paraty em vários livros, mostrando uma cidade além dos cartões-postais. Este livro não fala só de fantasmas. Também trata de festas tradicionais e passeios ecológicos. Mas o forte são as histórias do outro mundo. Como a do Cabeção, que atormenta a esquina da Santa Casa e do qual só se pode fugir correndo de costas, ou a do jornalista que todas as tardes joga o molho de chaves sobre uma mesa e começa a escrever. Eles nos trazem a sensação de um mundo antes da TV, quando as histórias de aparições eram o sabor das noites. São sem trocadilho a alma daquele lugar.

De leitor para leitor
Livro: PARATY – encantos e malassombras, de Tom e Thereza Maia
Assunto/Personagem Principal: a cidade de Paraty

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Adolescentes de certa cultura
Quem gosta de contar um causo à moda antiga
Apaixonados por Paraty

O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Histórias de fantasma
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QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 4 hs
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PODE SER LIDO na cama, no ônibus, no metrô. Não exige muita concentração.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
público feminino (histórias de sexualidade e família): Muitas histórias de fantasmas. Talvez seja um livro mais para este público.
público masculino (poder, política e economia): O mesmo. Homens também podem gostar de um causo.
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TRECHO

“Na rua da Ferraria, que hoje se chama Comendador Jose Luiz,. em casa de família tradicionalmente cat6lica, uma menina loura e de olhos azuis aparece vez por outra, nos mais diferentes horários. Demonstra certa preferência pela sala de jantar.

Um religioso, que dirigia um orfanato na cidade paulista de Guaratinguetá, tinha o costume de trazer seus meninos para banhos de mar em Paraty, várias vezes hospedando-se nessa casa da rua da Ferraria.

Em certa oportunidade, o religioso indagou à dona da casa por que ela ainda não lhe havia apresentado aquela linda menina loura que costumava estar com ele na sala de jantar.

Como resposta, soube que na casa não morava nenhuma menina loura. Tratava-se, sim, de uma aparição constante, todos ignorando quem teria sido a bela menina loura, de olhos azuis, que ainda hoje ali teima em ´viver´.” (p116)

quarta-feira, 18 de março de 2009

A FERROVIA DO DIABO, de Manoel Rodrigues Ferreira


FERREIRA, MANOEL RODRIGUES. A Ferrovia do Diabo. São Paulo: Melhoramentos, 2005. 398p.

O colonialismo nasce de uma contradição: a superioridade de um povo/religião/tecnologia sobre outro e a necessidade de guiá-lo a um estágio superior. Para um grupo afirmar sua diferença, precisa se afastar. Para guiar outro, precisa aproximar-se dele. Esse choque nunca foi tão concreto como na história de uma ferrovia relativamente pequena hoje demolida situada nas franjas do Brasil e que ligava dois rios e dos quais tirou o nome.

A história da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré é tão inverossímil que só poderia ter sido inventada por um péssimo romancista. Um rio gigante, massa de água a cortar o centro da selva, chamado rio Madeira. O rio ainda com o nome de Guaporé desliza tranqüilo homens e barcos. Em certo momento, pula, e pula de novo e de novo. 400 quilômetros de cachoeira. Depois tranqüiliza, estrada líquida até o Atlântico. Dois países, Brasil e Bolívia, um com suas desprezadas bandas ocidentais e outro com suas desprezadas bandas orientais a dependerem de uma melhoria nesta passagem das cachoeiras para permitir tráfego para o oceano. No meio do século XIX alguém vem com a idéia: as mercadorias percorreriam o trecho encachoeirado de trem. Depois seriam embarcadas de novo em navios.

Só um problema: o lugar. Desconhecido ao completo: índios e piuns e carapanãs e cobras e anofelinos e a princesa e arquiduquesa e por que não verdadeira rainha do lugar, sua majestade a Malária. A selva naqueles tempos sem motosserra nem criação extensiva de gado apertava os rios e os homens. Data de 1722 a primeira passagem documentada, pelo lendário homem de meia-idade major Francisco de Melo Palheta, o homem que trouxe o café ao Brasil. Desde então mercadorias passavam, não sem algumas se perderem, e homens conduziam barquinhos pelas corredeiras, não sem alguns repousarem para sempre no fundo de pesadelos líquidos que ganhavam o nome de salto do Teotônio ou Caldeirão do Inferno.

Mas o surrealismo veio com a ferrovia. Engenheiros passavam apressados pelo rio, davam rápidas olhadelas no horizonte e faziam projetos que para serem obras de ficção bastava apenas o título. Com base em projetos onde só não se sabia a extensão, o terreno, as doenças os índios os riscos e os custos, homens eram jogados na selva. Começou em 1872. A Europa regurgitava de dinheiro e precisava aplicá-lo, mesmo em ferrovias que ninguém sabia com razoável segurança onde ficavam. Quatro construtoras tentaram. Nenhuma conseguiu, sendo que as duas últimas tiveram o talvez bom senso de sequer tentar com seriedade. O dinheiro não dava, o terreno cedia, os estômagos logo enjoavam de tanto comer conserva. Mas isso não seria nada se dentro de alguns dias o trabalhador não sentisse um forno na cabeça, de febre. Depois vinha a paralisia, começando pelas pernas e comendo o homem aos poucos. Era o que os gringos engenheiros chamavam de blackwater fever e que os romanos acharam que vinha de um ar mau, daí mal-aria. De cada dez homens, três morriam. Mais ainda ficavam inutilizados e as construtoras os demitiam.

O boom das bicicletas exigiu borracha, aquela região tinha muita e ressuscitou o interesse pela ferrovia, esporeado por uma guerra que trouxe o Acre ao Brasil. Num contrato que foi uma rosácea de roubos a construção acabou ficando com a figura sinistra do quase dono do Brasil, o multimilionário ianque Percival Farquhar. Em 1907 ele ganhou a concorrência através de um laranja. Ganhou muito dinheiro com a Madeira-Mamoré. Nunca teve a curiosidade de fazer turismo no local, entretanto. Mandou outros. Sua construtora logo se rendeu à realidade: os homens duravam três meses, não mais. Depois disso a maior parte estava inutilizada, outros já tinham escolhido as margens do Madeira como sua residência eterna. A solução era trazer mais gente. E vinham, em média 500 por mês, doentes novos que vinham substituir os doentes velhos.

E a ferrovia avançou, por quase 400 quilômetros e cinco anos. Ironia das ironias, quando concluída seu interesse tinha diminuído muito. A borracha baixara de preço e novas ferrovias chilenas e argentinas puxavam o tráfego boliviano para seus países. E ficou a ferrovia, até que o governo militar mandou liquidá-la, arrancar seus trilhos, queimar seus arquivos e vender as locomotivas como sucata. Felizmente o jornalista Manoel Rodrigues Ferreira pôde escrever este livro antes.

Hoje, gente interessada em preservação da história tenta salvar o que resta da Ferrovia, em grande parte motivados por este livro. Quanto às cachoeiras do Madeira, novos governos, novos empreiteiros a desejarem novos lucros querem afogá-las debaixo de barragens, uma obra denunciada como nova irresponsabilidade, dessa vez ecológica.

Fica a lição: o desconhecimento. Homens de fora, desinteressados na terra, colonizadores, a quererem lucro com ela. E a sofrerem ou fazer peões sofrerem a sua suave vingança, quer esta venha por febre alta ou algum desastre da ecologia.

De leitor para leitor
Livro: A FERROVIA DO DIABO, de Manoel Rodrigues Ferreira
Assunto/Personagem Principal: Estrada de Ferro Madeira-Mamoré

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Curiosos sobre história da Amazônia
Interessados em histórias de viagens e aventuras
Quem gosta em geral de trens

O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Uma história bem seqüenciada, com poucos saltos.
Muita aventura de gente cortando mata virgem a facão
Escândalos financeiros
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QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 15 hs
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PODE SER LIDO na escrivaninha, ocasionalmente na cama. Exige certa atenção.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
público feminino (histórias de sexualidade e família): muito pouco
público masculino (poder, política e economia): muita aventura de viagem e selva. Muitas revelações sobre como se fazem obras e contratos no país.
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PONTO FRACO:
O autor perde algumas dez páginas teorizando as causas do desenvolvimento industrial, o que não cabe num trabalho destes.



TRECHO

“Em Londres, todos os passos da operação financeira haviam sido minuciosamente estudados. Nenhum detalhe fora omitido. Tudo, mas sobre a operação financeira, bem entendido. Porque do terreno onde seria construída a ferrovia ninguém sabia nada. Absolutamente nada. Ninguém, até aquele momento, havia percorrido o terreno adjacente às cachoeiras, em toda a sua extensão, a fim de ao menos o conhecer superficialmente. Ninguém sabia o que se escondia atrás da pujante floresta amazônica que se divisava das cachoeiras do Madeira. Não se sabia se era terreno montanhoso, plano e enxuto, ou alagado. A ignorância sobre a zona que a ferrovia deveria atravessar era completa. Não se sabia nem qual a extensão ao menos aproximada que teria a futura estrada de ferro. Nenhum engenheiro boliviano ou brasileiro fora chamado para opinar sobre a construção. E naquele mês de janeiro de 1872, tudo na praça de Londres estava concluído, para ser dado início aos trabalhos da construção.” (p80)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Narrativa de Serviços no Libertar-se o Brasil da Dominação Portuguesa - de Thomas Cochrane


COCHRANE, Thomas John. Narrativa de Serviços no Libertar-se o Brasil da Dominação Portuguesa. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003. 276 p. (Edições do Senado Federal, vol. 16).

UM QUASE ESTUDO SOBRE A AVAREZA

Este não é um livro de memórias, é uma fatura. Uma conta apresentada para pagamento. Se quisermos ser chulos, uma choradeira por dinheiro. Nossas crianças na escola aprendem que um certo Lord Cochrane ajudou Dom Pedro I na Independência, comandando navios. Não são avisados de que ele veio aqui apenas fazer dinheiro, e fez muito, e por toda a vida quis mais.

Thomas John Cochrane nasceu em 1775 na Escócia. Era também Conde de Dundonald , Barão de Paisley e de Ochiltree. Com dezoito anos entrou na Marinha inglesa. Brigou com seus superiores, perdeu o emprego. O azar foi sua sorte. Passou a alugar seus talentos de matador marinho a quem pagasse mais. E havia mercado. Lá longe na América do Sul colônias exploradas até a última gota queriam virar países. E tão exploradas eram que sequer tinham marinheiros, tendo de contratar guerreiros pagos. E lá foi ele. Matou espanhóis a mando dos peruanos e chilenos nas lutas de independência desses países.

Ainda era empregado dos chilenos quando soube da grande oportunidade. Um príncipe europeu depois de longa hesitação tinha decidido fazer um reino próprio na América. Precisava combater os inimigos dessa idéia. Para isso precisava de uma Marinha. E para comandá-la precisava de um Almirante.

Cochrane exigiu condições de príncipe, e cada promessa a mais vaga era cobrada por ele com liquidez de um cheque. Pagamento do salário de almirante; salário de primeiro almirante, título que não existia, criado só para ele; indenização pelo que perdera ao deixar seu emprego na Marinha do Chile; a totalidade dos barcos apreendidos, a serem divididos entre ele e os marinheiros; as mercadorias nos respectivos barcos; as mercadorias que apreendera em terra; bônus por serviços extras que alegara ter feito; terras que lhe dessem renda para manter as honras adequados ao título de Marquês do Maranhão, que lhe fora concedido; pensão pelo resto da vida, inclusive para sua mulher. E nada, literalmente nenhum centavo foi esquecido. Escreveu esse livro em 1859, muitos anos depois dos fatos, às vésperas de morrer, para pedir dinheiro.

Entre uma ou outra reclamação sobre dinheiro o livro dá informações preciosas sobre nossa independência. Como Dom Pedro inicialmente era pouco mais que governador do Rio; o conflito entre os Andradas e seus inimigos; a importância que o Maranhão tinha no contexto da época; o bloqueio ao porto de Salvador e as razões do dois de julho, que na Bahia é considerado o dia da Independência. Claro, tudo isso a ser cotejado com outras fontes a distinguir o que é fato do que é interesse do nosso Almirante de fazer dinheiro. O livro elogia os Andradas, talvez porque os Andradas fossem a favor dele, e os inimigos dos Andradas o vissem com suspeição. O Maranhão é muito elogiado talvez para sustentar seus pedidos de prêmio por ter garantido a permanência desta província no Império.

Não recomendo o livro para quem quer ler por diletantismo, por diversão. Dois tipos de público ganham com a leitura deste livro: (a) fanáticos por história do Brasil, particularmente de sua independência; (b) interessados em psicologia, para conhecer um caso quase cômico de obsessão por dinheiro.

A propósito, seus herdeiros receberem muito do que ele pleiteou, depois de sua morte. No Brasil os estrangeiros sempre são bem remunerados.

DE LEITOR PARA LEITOR

Livro: Narrativa de Serviços no Libertar-se o Brasil da Dominação Portuguesa, de Thomas John Cochrane.
Assunto/Personagem Principal: Thomas John Cochrane.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Interessados na história da Independência do Brasil.
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O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Fatos pouco conhecidos sobre as lutas que se seguiram à Independência do Brasil.
Histórias por trás de certos fatos e personagens bem conhecidos, como José Bonifácio e o dois de julho na Bahia e a conquista do Maranhão.

QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 12 hs
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DEVE SER LIDO em escrivaninhas, poltrona ou na cama. Exige alguma atenção.

O QUE ESTE LIVRO MAIS TRAZ PARA VOCÊ:
Uma visão nova de como sem deu a Independência.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
Público feminino (histórias de sexualidade e família): quase nada
Público masculino (poder, política e economia): histórias de marinha; histórias sobre as batalhas da guerra de Independência.

TRECHO

“Viu Sua Majestade Imperial que, sem armada, o desmembramento do Império – pelo que respeitava às províncias do Norte – era inevitável; e a energia do seu Ministro Bonifácio em preparar uma esquadra, foi tão louvável quanto o havia sido a sagacidade do Imperador em determinar que ela se criasse. Entrou-se com entusiasmo numa subscrição voluntária: bandos de artífices correram aos arsenais; a única nau de linha no porto requeria quase ser de todo reconstruída; mas o tripular de maruja nativa esse e outros vasos prestáveis era cousa impossível – havendo sido política da mãe pátria o fazer até o comércio de cabotagem por meio exclusivamente de portugueses, nos quais o Brasil agora não se podia fiar para a luta que se aproximava com os compatriotas dos mesmos.” (p36)

terça-feira, 10 de março de 2009

O Brazil Acreano, de Antônio José Souto Loureiro

LOUREIRO, Antônio José Souto. O Brazil Acreano: scenas de uma épocha. Manaus: Ed. do autor, 2004. 175p.

O Acre dava lucro. Certo, existiu a chamada Revolução Acreana, a figura cômica de Luiz Galvez e a figura heróica de José Plácido de Castro. Mas alguém colocou esses heróis lá. Alguém que desejava dinheiro. O Acre foi formalmente arrancado à Bolívia em 1903. No ano seguinte a União organizou formalmente o novo território em três prefeituras. Um certo general subiu o rio Purus, depois o afluente Iaco e fundou a sede de uma das prefeituras, com o nome de um herói da guerra do Paraguai que nunca suspeitou que o Acre existia chamado Sena Madureira.

O médico e membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas Antônio José Souto Loureiro nos traz a história dos inícios do município de Sena Madureira através de uma fonte única, os jornais da cidade, especialmente o Brasil Acreano. A ligação do autor com as fontes não é só intelectual. É neto de Antônio Pinto do Areal Souto, cearense de Independência e poeta, num Acre em que mais da metade da população era de cearenses, um fato incomum considerando-se os cinco mil quilômetros de distância entre os dois lugares.

Treinados para o autodesencanto, desconhecemos as pessoas interessantes que viveram neste país. Este livro revela um, o capitão Samuel Barreira Cravo, prefeito interino de Sena Madureira e homem que já em 1909 reuniu congresso para diversificar a economia da Amazônia e estudar de perto a concorrência da borracha plantada no Ceilão. O governo federal não fez nada e quando um par de anos depois o preço despencou, declarou-se surpreso. Surpresa nada, inoperância sim.

O Acre e Sena Madureira podem hoje ser fins-de-mundo. Não o eram. Em 1910 a cidade tinha a mesma renda per capita da Bélgica. Mil quilos de borracha valiam vinte quilos de ouro. A cidade financiava o resto do país. O governo só gastava na cidade um oitavo do que arrecadava lá. O resto – quase tudo – ia para Rio e São Paulo.

A guerra valeu o gasto: de 1904 a 1909 os impostos arrecadados quase igualaram os gastos do governo com o Acre, incluindo pagamentos à Bolívia, despesas com tropas e indenizações diversas. Guerras são de honra, religião e raça. Para uso externo. Na prática, guerras são Money. E a guerra do Acre deu muito dinheiro. Como sempre, para poucos. Mas o dinheiro que fixou era suficiente para financiar advogados, jornais e poetas em número estratosférico para cidade tão pequetita. O poeta Quintino Cunha e o intelectual Soares Bulcão trabalharam por lá. José Pedro Soares Bulcão é pai da atriz Florinda Bolkan.

Um pequeno livro que revela um microcosmo de nosso país. Oriundo de uma fonte só, e este é o seu senão: baseia-se quase que exclusivamente em jornais. Mas um livro a ser lido por quem se interessa pela aventura amazônica.







DE LEITOR PARA LEITOR

Livro: O Brazil Acreano: scenas de uma épocha, de Antônio José Souto Loureiro.
Assunto/Personagem Principal: Sena Madureira, cidade do Acre na época do ciclo da borracha.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Acreanos.
Pessoas interessados na história do Acre.
Interessados no ciclo da borracha.
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O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Fatos pouco conhecidos sobre a riqueza do tempo da borracha.
Conflitos e revoltas virtualmente desconhecidos.
Nomes de pessoas que tiveram destaque noutros estados, na nossa história, e estavam lá presentes.

QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 6 hs
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DEVE SER LIDO em escrivaninhas, poltrona ou na cama. Exige alguma atenção.

O QUE ESTE LIVRO MAIS TRAZ PARA VOCÊ:
Uma visão nova da região Norte, como região que teve muita riqueza.
Nova visão da imprevidência do Estado brasileiro, na questão da borracha.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
Público feminino (histórias de sexualidade e família): quase nada
Público masculino (poder, política e economia): histórias sobre o esplendor da Borracha.


TRECHO

“A paz interna foi restabelecida, no dia 25 de agosto de 1909, ao menos temporariamente, coma auspiciosa notícia de que a borracha atingira o admirável preço de 11$300, por quilograma, prometendo não parar por aí, o que de fato aconteceria, até abril de 1910, face à especulação altista das bolsas de Londres e Nova Iorque, fomentadas pelo governo inglês, para arrecadar os capitais necessários ao fortalecimento das plantações do Oriente.” (p27)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Cuiabá - paisagens e espaços da memória, de Sônia Regina Romancini.


ROMANCINI, Sônia Regina. Cuiabá – paisagens e espaços da memória. Cuiabá: Cathedral publicações, 2005. (Coleção Tibanaré, vol 6). 176p.

Um livro sobre a história urbanística de Cuiabá pode nos ensinar a enxergar algo melhor em todas as cidades? Ou em nossa vida pessoal? É livro que se pode dizer despretensioso. Historia a capital do Mato Grosso, depois escolhe pontos significativos dela e prossegue baseado em pesquisas sobre como os habitantes locais percebem a mutação de seu espaço.

Cuiabá nasceu singular. De um riacho acarpetado de pó de ouro que um certo paulista descobriu em 1719. À beira do riacho nasceu uma povoação e uma igreja, de São Benedito, até hoje existente. Depois a estagnação econômica, fazendo-a por séculos parecer uma aldeia do Minho. No começo do século XX, o afrancesamento, as lojas de nome parisiense. As boas famílias e a ocupação social dos espaços públicos. Pelo meio do século, a prioridade desta nova engenhoca, o automóvel. A falta de esgoto transformando os riachos em esgotos, inclusive o riacho fundador. As autopistas ocupando as margens de rios impermeabilizando o solo e aumentando a temperatura. A prioridade da multiplicação de capital destruindo os prédios antigos e aumentando os gabaritos. O conforto dos automóveis exigindo mais asfalto e aumentando mais ainda a temperatura, junto com arrancamento de árvores. A população se fechando em casa e abandonando os espaços públicos, tomados por camelôs e doados pelo poder público a diversos fins particulares e governamentais. Finalmente a revalorização dos cacos do que restou, com a criação de centros históricos, leis de tombamento e centros culturais.

Podia ser a história de qualquer cidade do país. Somos muito parecidos. Ridiculamente parecidos. E não só as cidades. O trecho citado abaixo explica bem. Somos todos iguais, movidos a Macdonald’s e subordinados a juros de banco, todos nós, homens e cidades. A recente busca do passado é uma busca da singularidade. A história do riacho Prainha que em meio século se transformou de riacho fundador em esgoto soterrado sob uma avenida de pista quádrupla é a mesma história do Anhangabaú paulista, do Carioca do Rio, do Pajeú de Fortaleza, qualquer. E a busca da singularidade pode ser perigosa. Pode ser: sou singular porque sou branco / por que sou católico / por que sou negro / por que sou gaúcho. A singularidade pode ser excludente.

A prioridade a uma minoria da população que detém poder político e tem dinheiro para conseguir recursos muitas vezes públicos para construir prédios; a manipulação dos recursos públicos para construir infra-estrutura para esse lucro pessoal; o desrespeito ao não possuidor de carro, obrigado a se apertar em calçadas esburacadas; a privatização do lazer e dos espaços de convivência, tudo o que vemos está sempre ali, em microcosmo. Livro quase para especialistas mas que pode ter leitura ampla para quem se interessa pela cidade onde mora.

DE LEITOR PARA LEITOR

Livro: Cuiabá: paisagens e espaços da memória, de Sônia Regina Romancini.
Assunto/Personagem Principal: Cuiabá – sua história urbana.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Mato-grossenses.
Pessoas interessados na história de Cuiabá.
Interessados na evolução urbana das grandes e médias cidades brasileiras.
Interessados no efeito dos automóveis e da especulação imobiliária nas cidades.
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O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Uma evolução histórica bem delineada.
Opiniões populares sobre esta evolução.

QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 6 hs
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DEVE SER LIDO em escrivaninhas, poltrona ou na cama. Exige alguma atenção.

O QUE ESTE LIVRO MAIS TRAZ PARA VOCÊ:
Possibilidade de fazer paralelos com a evolução da sua cidade.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
Público feminino (histórias de sexualidade e família): sobre a piora na qualidade de vida das grandes cidades e perda dos laços afetivos de vizinhança.
Público masculino (poder, política e economia): histórias sobre a própria evolução urbana e a especulação imobiliária.

TRECHO

“Numa abordagem sobre a memória das cidades, Abreu salienta que, ante os acontecimentos do século XX, com os progressos técnicos e científicos, as guerras, a fome, entre outros, as sociedades buscam novas visões de mundo, vivendo mais o presente, desconfiando do futuro e revalorizando o que construíram em tempos passados

Segundo Abreu, ante a homogeneidade do espaço global, cada lugar procura na singularidade a sobrevivência e a individualidade, sob esse aspecto:

O passado é uma das dimensões mais importantes da singularidade. Materializado na paisagem, preservado em ‘instituições de memória’, ou ainda vivo na cultura e no cotidiano dos lugares, não é de se estranhar, então, que seja ele que vem dando o suporte mais sólido a essa procura de diferença.” (p58)