terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

MÁRIO FAUSTINO, uma biografia, de Lília Silvestre Chaves.

CHAVES, Lília Silvestre. Mário Faustino: uma biografia. Belém: SECULT, 2004. 400p.

Mário Faustino foi cometa, para usar uma metáfora gasta que ele não utilizaria. Em trinta e dois anos veio, escreveu, traduziu, movimentou a poesia de um país do terceiro mundo e espatifou-se contra a cordilheira dos Andes num acidente aéreo no final de 1962. A profa. Lília Chaves escreveu biografia sensível. Registra suas impressões ante as fotografias do poeta, os olhos de impressão química a fitar os seus e os olhos do leitor, pois o livro é bem ilustrado. Os passos do poeta pouco antes do vôo para os Estados Unidos com escala em Lima são seguidos com um cuidado tornado denso pois todos sabem o que acontecerá.

Depois a biografia se torna cronológica. O nascimento em Teresina, na qual passou pouquíssimo tempo. Se Faustino pode ser reivindicado geograficamente, ele é paraense. Lá arranjou emprego de cronista de jornal aos dezoito anos, lá um professor o convenceu a ser poeta. E a primeira poesia já foi de nível, nada de pé quebrado. O amor pela língua inglesa recompensado por uma bolsa de um ano nos Estados Unidos. Esta estadia o ensinou a ler e estudar, como profissional. Depois o emprego público, na antiga Superintendência para a Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) sob a égide de seus amigos o historiador Arthur César Ferreira Reis e o filósofo Benedito Nunes. E a ida ao Rio, trabalhar na Escola Brasileira de Administração Pública e no jornalismo. Torna-se editor cultural do Jornal do Brasil.

O Brasil jusceliniano fervia e os concretistas lideravam a fervura no lado da poesia. Faustino conseguiu a proeza de ser um não-concretista respeitado pelos próprios, que depois de sua morte o consideraram o último-fazedor-de-versos. A biógrafa enfatiza a vida pessoal, a homossexualidade assumida, a paixão pelo aprendizado de línguas. Vários poemas são reproduzidos.

Curioso que quatro décadas se passaram antes que alguém se interessasse em contar essa vida. Um bom achado. Uma boa contribuição para mostrar um brasileiro competente no que fazia.

De leitor para leitor

Livro: MÁRIO FAUSTINO, uma biografia, de Lília Silvestre Chaves.
Assunto/Personagem Principal: o poeta Mário Faustino

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Interessados em poesia brasileira.
Interessados na história cultural do Brasil dos anos 50
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O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Poesias do autor
Uma narração quase poética da vida de um poeta

QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 10 hs
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PODE SER LIDO na escrivaninha e na cama. Exige um pouco de atenção, sendo inadequado para ser em ônibus/metrô ou em filas em pé.

O QUE ESTE LIVRO MAIS TRAZ PARA VOCÊ:
Informação sobre o ambiente cultural dos anos 50.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
público feminino (histórias de sexualidade e família): a relação de Faustino com a família e sobre sua homossexualidade.
público masculino (poder, política e economia): histórias sobre a poesia dos anos 50.
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TRECHO

“E à pergunta de um hipotético leitor – ´De que precisaria a poesia brasileira?´ - Mário Faustino respondeu prontamente:

´A poesia brasileira precisa de dinheiro. Precisa de uma estrutura econômica estável como alicerce. Precisa de que o Brasil seja rico e autoconfiante e independente em todos os sentidos. Precisa de universidades, enciclopédias, dicionários, editores, cultura humanística, museus, bibliotecas, público inteligente, críticos de verdade, agitação, coragem. Precisa de contar com uns poetas que leiam grego, com outros perseguidos pela polícia e com uns terceiros que leiam provençal e ameacem a sociedade. Isso sem contar com uns dois ou três cuja poesia fale à alma do povo´”. (p265)

Um comentário:

  1. Mue caro, Paulo, interessei-me enormemente pelo livro devido a importância para a história da Literatura, agradeço por saber. Abraços!

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