terça-feira, 10 de março de 2009

O Brazil Acreano, de Antônio José Souto Loureiro

LOUREIRO, Antônio José Souto. O Brazil Acreano: scenas de uma épocha. Manaus: Ed. do autor, 2004. 175p.

O Acre dava lucro. Certo, existiu a chamada Revolução Acreana, a figura cômica de Luiz Galvez e a figura heróica de José Plácido de Castro. Mas alguém colocou esses heróis lá. Alguém que desejava dinheiro. O Acre foi formalmente arrancado à Bolívia em 1903. No ano seguinte a União organizou formalmente o novo território em três prefeituras. Um certo general subiu o rio Purus, depois o afluente Iaco e fundou a sede de uma das prefeituras, com o nome de um herói da guerra do Paraguai que nunca suspeitou que o Acre existia chamado Sena Madureira.

O médico e membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas Antônio José Souto Loureiro nos traz a história dos inícios do município de Sena Madureira através de uma fonte única, os jornais da cidade, especialmente o Brasil Acreano. A ligação do autor com as fontes não é só intelectual. É neto de Antônio Pinto do Areal Souto, cearense de Independência e poeta, num Acre em que mais da metade da população era de cearenses, um fato incomum considerando-se os cinco mil quilômetros de distância entre os dois lugares.

Treinados para o autodesencanto, desconhecemos as pessoas interessantes que viveram neste país. Este livro revela um, o capitão Samuel Barreira Cravo, prefeito interino de Sena Madureira e homem que já em 1909 reuniu congresso para diversificar a economia da Amazônia e estudar de perto a concorrência da borracha plantada no Ceilão. O governo federal não fez nada e quando um par de anos depois o preço despencou, declarou-se surpreso. Surpresa nada, inoperância sim.

O Acre e Sena Madureira podem hoje ser fins-de-mundo. Não o eram. Em 1910 a cidade tinha a mesma renda per capita da Bélgica. Mil quilos de borracha valiam vinte quilos de ouro. A cidade financiava o resto do país. O governo só gastava na cidade um oitavo do que arrecadava lá. O resto – quase tudo – ia para Rio e São Paulo.

A guerra valeu o gasto: de 1904 a 1909 os impostos arrecadados quase igualaram os gastos do governo com o Acre, incluindo pagamentos à Bolívia, despesas com tropas e indenizações diversas. Guerras são de honra, religião e raça. Para uso externo. Na prática, guerras são Money. E a guerra do Acre deu muito dinheiro. Como sempre, para poucos. Mas o dinheiro que fixou era suficiente para financiar advogados, jornais e poetas em número estratosférico para cidade tão pequetita. O poeta Quintino Cunha e o intelectual Soares Bulcão trabalharam por lá. José Pedro Soares Bulcão é pai da atriz Florinda Bolkan.

Um pequeno livro que revela um microcosmo de nosso país. Oriundo de uma fonte só, e este é o seu senão: baseia-se quase que exclusivamente em jornais. Mas um livro a ser lido por quem se interessa pela aventura amazônica.







DE LEITOR PARA LEITOR

Livro: O Brazil Acreano: scenas de uma épocha, de Antônio José Souto Loureiro.
Assunto/Personagem Principal: Sena Madureira, cidade do Acre na época do ciclo da borracha.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Acreanos.
Pessoas interessados na história do Acre.
Interessados no ciclo da borracha.
.
O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Fatos pouco conhecidos sobre a riqueza do tempo da borracha.
Conflitos e revoltas virtualmente desconhecidos.
Nomes de pessoas que tiveram destaque noutros estados, na nossa história, e estavam lá presentes.

QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 6 hs
.
DEVE SER LIDO em escrivaninhas, poltrona ou na cama. Exige alguma atenção.

O QUE ESTE LIVRO MAIS TRAZ PARA VOCÊ:
Uma visão nova da região Norte, como região que teve muita riqueza.
Nova visão da imprevidência do Estado brasileiro, na questão da borracha.
.
PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
Público feminino (histórias de sexualidade e família): quase nada
Público masculino (poder, política e economia): histórias sobre o esplendor da Borracha.


TRECHO

“A paz interna foi restabelecida, no dia 25 de agosto de 1909, ao menos temporariamente, coma auspiciosa notícia de que a borracha atingira o admirável preço de 11$300, por quilograma, prometendo não parar por aí, o que de fato aconteceria, até abril de 1910, face à especulação altista das bolsas de Londres e Nova Iorque, fomentadas pelo governo inglês, para arrecadar os capitais necessários ao fortalecimento das plantações do Oriente.” (p27)

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Amigo, estou a procura desse livro, O Brazil Acreano.
    Sabe onde posso conseguir uma cópia do mesmo?
    Obrigado,
    Vladimir

    ResponderExcluir