sexta-feira, 13 de março de 2009

Narrativa de Serviços no Libertar-se o Brasil da Dominação Portuguesa - de Thomas Cochrane


COCHRANE, Thomas John. Narrativa de Serviços no Libertar-se o Brasil da Dominação Portuguesa. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003. 276 p. (Edições do Senado Federal, vol. 16).

UM QUASE ESTUDO SOBRE A AVAREZA

Este não é um livro de memórias, é uma fatura. Uma conta apresentada para pagamento. Se quisermos ser chulos, uma choradeira por dinheiro. Nossas crianças na escola aprendem que um certo Lord Cochrane ajudou Dom Pedro I na Independência, comandando navios. Não são avisados de que ele veio aqui apenas fazer dinheiro, e fez muito, e por toda a vida quis mais.

Thomas John Cochrane nasceu em 1775 na Escócia. Era também Conde de Dundonald , Barão de Paisley e de Ochiltree. Com dezoito anos entrou na Marinha inglesa. Brigou com seus superiores, perdeu o emprego. O azar foi sua sorte. Passou a alugar seus talentos de matador marinho a quem pagasse mais. E havia mercado. Lá longe na América do Sul colônias exploradas até a última gota queriam virar países. E tão exploradas eram que sequer tinham marinheiros, tendo de contratar guerreiros pagos. E lá foi ele. Matou espanhóis a mando dos peruanos e chilenos nas lutas de independência desses países.

Ainda era empregado dos chilenos quando soube da grande oportunidade. Um príncipe europeu depois de longa hesitação tinha decidido fazer um reino próprio na América. Precisava combater os inimigos dessa idéia. Para isso precisava de uma Marinha. E para comandá-la precisava de um Almirante.

Cochrane exigiu condições de príncipe, e cada promessa a mais vaga era cobrada por ele com liquidez de um cheque. Pagamento do salário de almirante; salário de primeiro almirante, título que não existia, criado só para ele; indenização pelo que perdera ao deixar seu emprego na Marinha do Chile; a totalidade dos barcos apreendidos, a serem divididos entre ele e os marinheiros; as mercadorias nos respectivos barcos; as mercadorias que apreendera em terra; bônus por serviços extras que alegara ter feito; terras que lhe dessem renda para manter as honras adequados ao título de Marquês do Maranhão, que lhe fora concedido; pensão pelo resto da vida, inclusive para sua mulher. E nada, literalmente nenhum centavo foi esquecido. Escreveu esse livro em 1859, muitos anos depois dos fatos, às vésperas de morrer, para pedir dinheiro.

Entre uma ou outra reclamação sobre dinheiro o livro dá informações preciosas sobre nossa independência. Como Dom Pedro inicialmente era pouco mais que governador do Rio; o conflito entre os Andradas e seus inimigos; a importância que o Maranhão tinha no contexto da época; o bloqueio ao porto de Salvador e as razões do dois de julho, que na Bahia é considerado o dia da Independência. Claro, tudo isso a ser cotejado com outras fontes a distinguir o que é fato do que é interesse do nosso Almirante de fazer dinheiro. O livro elogia os Andradas, talvez porque os Andradas fossem a favor dele, e os inimigos dos Andradas o vissem com suspeição. O Maranhão é muito elogiado talvez para sustentar seus pedidos de prêmio por ter garantido a permanência desta província no Império.

Não recomendo o livro para quem quer ler por diletantismo, por diversão. Dois tipos de público ganham com a leitura deste livro: (a) fanáticos por história do Brasil, particularmente de sua independência; (b) interessados em psicologia, para conhecer um caso quase cômico de obsessão por dinheiro.

A propósito, seus herdeiros receberem muito do que ele pleiteou, depois de sua morte. No Brasil os estrangeiros sempre são bem remunerados.

DE LEITOR PARA LEITOR

Livro: Narrativa de Serviços no Libertar-se o Brasil da Dominação Portuguesa, de Thomas John Cochrane.
Assunto/Personagem Principal: Thomas John Cochrane.

PARA QUEM ESTE LIVRO INTERESSA MAIS:
Interessados na história da Independência do Brasil.
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O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DESTE LIVRO:
Fatos pouco conhecidos sobre as lutas que se seguiram à Independência do Brasil.
Histórias por trás de certos fatos e personagens bem conhecidos, como José Bonifácio e o dois de julho na Bahia e a conquista do Maranhão.

QUANTIDADE DE HORAS DE ENTRETENIMENTO: 12 hs
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DEVE SER LIDO em escrivaninhas, poltrona ou na cama. Exige alguma atenção.

O QUE ESTE LIVRO MAIS TRAZ PARA VOCÊ:
Uma visão nova de como sem deu a Independência.
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PÚBLICO PARA AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ CONTARÁ:
Público feminino (histórias de sexualidade e família): quase nada
Público masculino (poder, política e economia): histórias de marinha; histórias sobre as batalhas da guerra de Independência.

TRECHO

“Viu Sua Majestade Imperial que, sem armada, o desmembramento do Império – pelo que respeitava às províncias do Norte – era inevitável; e a energia do seu Ministro Bonifácio em preparar uma esquadra, foi tão louvável quanto o havia sido a sagacidade do Imperador em determinar que ela se criasse. Entrou-se com entusiasmo numa subscrição voluntária: bandos de artífices correram aos arsenais; a única nau de linha no porto requeria quase ser de todo reconstruída; mas o tripular de maruja nativa esse e outros vasos prestáveis era cousa impossível – havendo sido política da mãe pátria o fazer até o comércio de cabotagem por meio exclusivamente de portugueses, nos quais o Brasil agora não se podia fiar para a luta que se aproximava com os compatriotas dos mesmos.” (p36)

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